Por onde Prestes passou



No dia 8, Rússia entrega ao Brasil documentos sobre Luiz Carlos Prestes. Família pretende contato com outros países e não é unânime quanto ao destino dos arquivos.
Adriano Belisário

Rebento do Cavalheiro da Esperança, Luiz Carlos Prestes Filho define seu trabalho pela preservação da memória do pai como uma “pequena luta afetiva”. No dia de 8 outubro, ele e parte da família poderão comemorar mais uma batalha ganha. Graças aos apelos da viúva Maria do Carmo Ribeiro Prestes, o governo da Rússia cedeu ao Brasil documentos sobre o líder comunista e a Coluna Prestes. A entrega oficial ocorre no dia 8 de outubro durante cerimônia em Brasília.

A liberação dos documentos surpreende. Durante sua estadia na Rússia nos anos 1970, o próprio Luiz Carlos Prestes tentou sem sucesso ter acesso a esta documentação. Até o momento, nem a família sabe exatamente o conteúdo do material que será encaminhado ao Arquivo Nacional. “Temos ali uma série de atas de reuniões da Internacional Comunista em que ele estava presente, além de documentos interessantes sobre a preparação da Intentona Comunista. Não sabemos se foi aceito, mas também fizemos o pedido de manuscritos com anotações sobre suas estratégias para uma guerra de movimento, que foram adotadas na Coluna Prestes”, detalha Prestes Filho.

Segundo Maria Prestes, o bom momento das relações internacionais brasileiras com a Rússia favoreceu a negociação dos arquivos. “Vivi 40 anos com Luiz Carlos Prestes. Precisava desses documentos para completar o arquivo que o Velho tinha. Não queremos colocá-los em nenhuma entidade particular. Afinal de contas, seu legado pertence ao povo brasileiro”, diz.

Mas não são todos os herdeiros que acataram a decisão da viúva. Filha do relacionamento de Prestes com Olga Benário, a renomada historiadora Anita Leocádia gostaria de ver os documentos em outro destino. "Fui surpreendida por esta notícia da doação dos arquivos lendo uma coluna de jornal. As coisas se resolvem ignorando minha existência. Maria Prestes não perdoa o fato de eu ser filha de Olga. Ela me hostiliza e acabou passando isso aos filhos. Agora, até os russos estão impressionantemente adotando esta posição", critica. Anita defende que os documentos sejam encaminhados ao Instituto Luiz Carlos Prestes, organização que preside, por se tratar de um espaço exclusivamente voltado para a preservação da memória do líder comunista.

“Por que o Arquivo Nacional, que já cuida de várias documentações, se existe uma entidade publicamente registrada que se propõe unicamente a preservar estes documentos e disponibilizar às pessoas? Para denunciar este absurdo, já fizemos um abaixo assinado que já conta com centenas de apoiadores”, protesta Anita. A historiadora afirma ainda que “a polícia carregou” boa parte dos registros da presença de Luiz Carlos Prestes no exterior, exceto jornais e publicações da imprensa.

Próxima parada: Uruguai
“Anita tem feito trabalho da maior excelência sobre a vida e luta do papai. Ela merece todas as nossas homenagens e atenções. Mas discordamos dela neste aspecto e acreditamos que os documentos devem ir para o Arquivo Nacional”, rebate Prestes Filho em defesa de sua mãe. Ao contrário de Anita, ele vê ainda grande relevância nos documentos sobre Luiz Carlos Prestes guardados em países como a Alemanha, Romênia, Polônia e China, entre outros. “Ele não foi apenas um herói nacional. Ele levou o Brasil para os quatro cantos do mundo. Tem muita coisa sobre o papai lá fora”, diz.

Ainda este ano, ele irá com Maria Prestes ao Uruguai para uma visita de agradecimento ao presidente José Mujica pelo batismo de uma praça ao lado do Palácio da Presidência em homenagem ao líder da Intentona Comunista. Na ocasião, será formalmente apresentada a proposta para que a praça receba um monumento a Luiz Carlos Prestes feito pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

No Brasil, a família já inaugurou memoriais da Coluna Prestes no Tocantins, Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará. E agora planeja uma singela homenagem no número 101 da Rua Acácias, na zona sul do Rio de Janeiro. Durante 10 anos, Maria Prestes morou com seu marido no local, em um apartamento doado por Niemeyer quando o amigo voltou da Rússia. Nos jardins por onde diversas vezes passeou o Cavalheiro da Esperança, será erguida uma pequena escultura sua acompanhada por uma placa, identificando-o. A inauguração está prevista para o 112° aniversário de Prestes, no dia 3 de janeiro de 2011.
Revista de Historia da Biblioteca Nacional - RJ

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