DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA
A emancipação da África Negra
Desigualdade e autoritarismo nos países independentes da África
Desigualdade e autoritarismo nos países independentes da África
O final da Segunda Guerra Mundial criou um clima amplamente favorável a
democracia e a emancipação dos países que ainda estavam sob o jugo colonial de
nações estrangeiras. A vitória no confronto contra os nazistas liderada pelos
Estados Unidos, Inglaterra e França trazia no seu bojo o claro constrangimento
das nações europeias. Esses países da Europa, que proclamavam em alto e bom tom
o seu ideário liberal e democrático, ainda se valiam do domínio sobre
territórios africanos e asiáticos para aumentar suas riquezas e fortalecer suas
economias.
Isso aumentava ainda mais as dificuldades internas dos
países africanos em busca de emancipação e estabilidade política e econômica.
Até mesmo em países que teoricamente estavam mais preparados para realizar a
transição da posição de colônias para a de países livres, como eram os casos do
Quênia e da Nigéria (ex-colônias britânicas) ocorreram muitos problemas.
O Quênia, país pobre situado na África Oriental, caracterizado
por um território sem água, em que as terras são estéreis, tinha enormes
problemas em setores básicos como a produção e a distribuição de alimentos.
Suas poucas áreas propícias ao desenvolvimento de culturas agrícolas situam-se
na região sul do país, na proximidade do Oceano Índico.
Se não bastasse essa penúria, o Quênia também sofria com os
conflitos internos causados por algumas de suas tribos, como foi o caso da
Rebelião Mau Mau (1952). Esse imbróglio foi causado pelos membros da tribo
Kikuyu, que se organizou numa organização terrorista que atuava secretamente e
lutava contra os colonizadores brancos que viviam em seu país, causando grande
terror entre os membros dessa comunidade. Esse foco de rebelião foi sufocado
apenas com a conquista da independência do país, em 1958.
A libertação da dominação colonial inglesa permitiu que
chegasse ao poder o presidente Jomo Kenyatta, de origem Kikuyu. Kenyatta havia
sido preso em 1953, onde permaneceu durante sete anos, sob a acusação de ser líder
da revolta dos Mau Mau. Durante seu
período de reclusão o presidente da recém libertada nação estudou o socialismo
e criou uma versão própria dessa corrente política, adaptada a realidade
africana.
Acreditava Kenyatta que o Quênia deveria adotar um socialismo que se
aproximasse mais dos modelos escandinavos e britânicos e não dos padrões
adotados pelos russos ou pelos chineses. Advogava em favor do fim dos
ressentimentos e tensões com os antigos colonizadores em prol da construção de
um país melhor. Ao propor essas ideias, refutava os conceitos de luta de
classes do marxismo clássico por entender que essa estrutura social não
imperava na África. Em sua versão do socialismo, Kenyatta acreditava que seus compatriotas
deveriam evitar que o poder e as riquezas de suas terras fossem apropriadas por
indivíduos e grupos estrangeiros. Defendia-se também a participação plena e
igualitária dos cidadãos na vida política nacional.
A Nigéria por sua vez, vivia assolada por denúncias de
corrupção, desmandos e violência que se tornaram ainda mais devastadoras para o
processo emancipatório local com o assassinato de seu primeiro-ministro e a
ascensão de um governo militar em 1966. Para piorar ainda mais a situação um movimento
separatista proclamou o surgimento da República de Biafra apenas um ano depois
do estabelecimento dos militares no poder.
O país foi então tomado por uma guerra civil que se estendeu
por três anos e vitimou mais de um milhão de pessoas. As maiores perdas não
ocorreram nos campos de batalha e sim em virtude da fome e de doenças
ocasionadas pela devastação do país. A derrota dos separatistas ocorreu apenas
em 1970 e impediu a plena organização do país, um dos mais ricos em recursos
minerais do continente africano (possui reservas de gás natural, carvão,
petróleo e colúmbio – mineral utilizado para a produção do aço).
Havia também casos de países que realizaram sua
independência sem que o poder fosse repassado para a maioria negra. Nesses
casos a minoria branca concentrou as atribuições políticas, militares e
econômicas e legou aos negros uma posição de submissão controlada a partir de
um aparato de estado de caráter repressor.
Isso aconteceu, por exemplo, no Zimbábue (antiga Rodésia),
onde a conquista da Independência levou ao poder o primeiro-ministro Ian Smith,
que cortou todos os laços que uniam o país a metrópole inglesa, inclusive a
participação na Comunidade Britânica. Essa atitude radical não promoveu, porém,
o gradual repasse das atribuições políticas e econômicas à comunidade negra que
formava a esmagadora maioria da população do país.
Acuado por pressões políticas externas, advindas
principalmente da Inglaterra e dos Estados Unidos, Smith promoveu uma lenta
abertura política a partir da qual se comprometeu a passar o poder político
para os negros. Em 1979 o país teve o seu primeiro presidente negro eleito.
Apesar disso as oposições mais radicais ao domínio dos brancos acreditavam que
esse novo governo havia sido eleito de forma fraudulenta e que os componentes
do governo eram apenas títeres controlados pelos brancos.
O mais célebre caso de governo despótico e racista
aconteceu, no entanto, na África do Sul. Nesse país vigorou durante muitos anos
o Apartheid, ou seja uma política discriminatória e extremamente preconceituosa
em relação a comunidade negra que tinha respaldo não apenas dos dirigentes que
controlavam o país, mas também da própria lei maior do país, a constituição.
Líderes nacionais que abertamente se posicionavam contra os
abusos cometidos na África do Sul foram penalizados de forma brutal. Stephen
Biko, influente defensor do protesto não violento foi assassinado na cadeia a
partir do comando das principais autoridades do país. Ele realizava importante
e expressiva campanha em prol da recuperação da auto-estima de seus
compatriotas ao liderar protestos que tinham como principal bandeira o slogan
“Black is beautiful”.
Nelson Mandela ficou encarcerado por décadas até que fosse
libertado e pudesse se tornar o primeiro presidente negro da África do Sul já
no início dos anos 1990. Desmond Tutu, bispo anglicano, respaldou-se na sua condição
de religioso para proteger inimigos do estado racista e pregar abertamente
contra o Apartheid em nível internacional. Apesar de seus esforços e de
diversos outros ativistas a comunidade internacional que investia no país não
apoiou de forma efetiva um boicote a África do Sul contra o racismo.
Outro caso contundente quanto as dificuldades dos países
africanos para atingir autonomia plena foi o de Gana. Essa ex-colônia
britânica, conhecida anteriormente como Costa do Ouro tornou-se independente em
1954. O líder do movimento emancipacionista foi Kwame Nkrumah (1909-1972), que
apesar de suas origens humildes foi educado na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Tinha fortes tendências socialistas e era um estudioso do
marxismo, apesar disso nunca declarou formalmente ter aderido ao socialismo.
Buscou apoio para algumas de suas políticas internas em Moscou. Acreditava que
as tradições culturais africanas como as de seu próprio país não poderiam ser
esquecidas em favor das influências europeias. Centralizador, o presidente de
Gana criou um regime político unipartidário. Investiu em ações de caráter
social com a construção de hospitais e um importante trabalho na área
educacional.
Foi deposto por um golpe militar sob a acusação de corrupção
e da criação de um culto a sua própria personalidade. Esse golpe, conforme
auferido posteriormente foi financiado pela CIA (Agência Central de Inteligência)
dos Estados Unidos. A ação norte-americana fazia parte das estratégias de
combate a expansão do comunismo internacional daquele país. O importante era
derrotar os russos, o que aconteceria com a África pouco importava...
Foi no Congo, colônia da Bélgica, que ocorreu uma das mais
duras e violentas revoltas do continente africano. Prevendo que os
acontecimentos locais poderiam redundar num banho de sangue os colonizadores
belgas concedeu a independência a seus súditos locais. Esse acontecimento desencadeou
lutas internas que motivaram o surgimento de movimentos separatistas, com
especial destaque para a revolta que ocorreu em Katanga.
Katanga era a principal fonte de renda do país com suas
ricas minas de cobre, controladas por empresas belgas. Lideranças locais
motivadas pela riqueza de seu subsolo iniciaram revolta contra o poder central
do país e promoveram o assassinato de vários líderes nacionais, inclusive do
líder esquerdista Patrice Lumumba. Para isso contaram com o auxílio da CIA,
preocupada com a possibilidade dos comunistas tomarem o poder no país.
A ação do Conselho de Segurança da ONU impediu a
continuidade da guerra civil no país, no entanto não impediu que a história
daquela nação continuasse problemática e cheia de dificuldades já que em 1971
assumia o poder o ditador Mobutu, que mudou o nome daquela nação para Zaire.
Extraído do site: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/coluna.asp?coluna=4
Extraído do site: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/coluna.asp?coluna=4
Comentários